sábado, 5 de maio de 2012

Círculo de Cores pt V

E esses três meses foram o sopro de tempo que nem vi.

Num dia que já havia se tornado comum, eu estava jogando videogame com o Duka, quando minha mãe apareceu na porta do quarto e disse que o Nick estava no portão. Ela tinha dito que o Duka estava lá, então ele não quis entrar; mas isso nós percebemos no silêncio. Então o Duka se levantou e foi vestindo a blusa de frio que estava amarrada em sua cintura há segundos.

-Ahm, mande-o entrar, Du. Eu já ‘tava indo mesmo, então... – Não estava. Mas achei que se o Nicolas tinha aparecido, é porque tinha algo importante pra dizer. Duka ajeitou os óculos que entortaram em seu rosto quando ele vestiu a blusa parda.

- Mãe, diz pro Nick... digo, Nicolas subir, então.

Ela só olhou um olhar meio desconfiado e saiu do quarto com ar de relutância. Duka se despediu um pouco desanimado. Imaginei Duka e Nicolas se encontrando e se cumprimentando brevemente no quintal enquanto enrolava os controles nos fios do videogame.

-Opa! – o rosto perfeito de Nicolas surgiu na minha porta, com certo receio, pedindo pra entrar.

- Entra ai, Nicolau. – arrisquei.

- Ah, cala a boca.

Ele tinha alguns papéis enfeitados nas mãos.

- Olha, não vou tomar muito tempo de você não. É só pra convidar pra festa da Achila. Sabe como é, 15 anos e tal, ela quer que meus amigos vão, é uma desculpa pra ela se aproximar de vocês... Só deixei o Duka ir embora porque ela não gosta muito dele e não o convidou, ficaria chato.

-Entendo. Mas Nicolas, – soava estranho chamá-lo de Nick agora – você não acha muito estranho isso? Não sei, não sei nada sobre sua namorada e não sei o que dar de presente nem nada...

-Leva maquiagem de marca, pede umas dicas pra Mi, não sei. Ah, e se puder, entrega o convite dela também. – e me esticou dois envelopes, com os nomes Eduardo Martins e Milena Linzzaro com letras bem desenhadas.

-Não sei como vou fazer isso, Nicolas. Sabe, assim como você, não tenho contato com ela agora.

-Mas sua situação não é pior que a minha, cara. – Aquela briga. É mesmo. – Vou fazer uma homenagem-declaração pra Achila. Dessas que todo mundo na cidade vai zoar...

-Pois é, milagres acontecem, né? Nicolas Ferraz se apaixonou mesmo, afinal.
Nicolas deu uns murrinhos com a parte de trás da mão na parede, desencostou o corpo dali e anunciou que estava indo embora, pedindo pra que eu realmente fosse à festa.

-Acho que vou sim... Vai ser no fim de semana seguinte ao término das provas, e logo estaremos de férias... Ótima época para dar uma festa, a Paris Hilton é esperta.

-Não a chame de Paris Hilton, Du. Nada a ver... – ficou quieto por um ou dois minutos. – Vou lá, Du. Vê se vai mesmo, hein? É muito importante pra Achila. – E foi embora, mas não sem antes se esbaldar com o Regime.

 Como eu entregaria aquilo, eu não sei. Acabou que deixei na caixa do correio dela naquele mesmo dia, algumas horas mais tarde. Eu simplesmente não sei o que diria pra ela. Mas eu queria que ela fosse comigo. Pra dançar a valsa, falar comigo durante a noite, essas coisas, já que Duka não estaria lá. Achei idiota só pensar nela quando precisei. Mas era bem isso que aconteceu naquele momento plantado na porta da casa dela, hesitando entre deixar o convite na caixa ou tocar a campainha. Num só movimento, larguei o convite na caixa bege e me virei para ir embora.

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