Nossas férias já eram um acordar tarde demais, um comer demais, internet demais, até que a tal quarta-feira chegou. Acordei umas 15h, depois de horas e horas jogando com o Duka no computador. Foi o tempo de comer e ouvir pacientemente todas as reclamações de minha mãe sobre o que eu (não) fazia, tomar banho e me vestir e seguir para a casa de Mi, como o combinado.
Quando cheguei, ela nos esperava de pé na calçada brincando
de soltar fumaça com a boca, que era possível por causa do frio. Ela vestia luvas e estava com a bolsa jeans
cheia de penduricalhos que tanto gosto. Havia pintado os olhos.
-No frio não derrete a maquiagem – ela disse ao perceber que
eu olhava para seus olhos carregados de sombra preta. Eu não sei por que, mas
fiquei sem jeito. Eu vivia ficando sem graça com essas coisas relacionadas ao
corpo dela. Talvez seja por causa do meu pouco contato com o corpo feminino.
Depois de dez minutos esperando, Nick apareceu ao fim da
rua. Usava um gorro cinza e também vinha soprando o ar para ver a fumaça de ar
frio subir.
Resolvemos não tomar o ônibus para ir ao parque. Por conta
do frio, fomos a pé a fim de nos aquecer e novamente Mi estava no meio, com os
braços em volta do meu pescoço e de Nick, com a gente com os braços em volta de
sua cintura (espantoso como aquilo era tão espontâneo para Nick). E assim
chegamos ao tão sonhado parque, que estava bem diferente do que costumávamos
ver quando crianças, mas sem deixar de ter aquela magia toda. Como fomos a pé,
já havia escurecido quando chegamos.
Corremos os olhos por todo o espaço, com vontade de poder
abraçar toda a imagem com a visão. Tinha cores neon, que cintilavam, que piscavam,
que fosforesciam, que brilhavam, que...
Ao fundo, risadas, gritinhos de felicidade e aquela mesma
música infantil que tocava no carrossel quando éramos meros garotos sem nem ao
menos pelos no corpo. Cheiro de pipoca, de maçã do amor, de doces, de perfume,
de...Pensei ter visto aquilo como uma fotografia, onde vi até bolhas de sabão, cuja luz me fazia ter a impressão de que bolinhas coloridas eram postas naquele céu escuro. Era como entrar na minha própria cabeça e ver tudo de bom que eu podia pensar.
Era tão lindo que às vezes penso que aquele dia foi um
sonho. E isso é horrível, pois depois dali, nunca mais soube o que era sonho,
realidade ou imaginação.
Naquele momento de encanto, percebi que meus amigos também
haviam visto a mesma coisa que eu. Suas expressões denunciavam a mesmíssima
impressão que tive. Mas na roda gigante. Sua amada roda gigante. Tão deles...
Devo reconhecer que o objeto estava particularmente bonito e
conforme girava, suas várias cores se tornavam diferentes, alguns pontos
brilhavam, piscavam e alguns riscos em verde e vermelho neon davam aos acentos
do brinquedo uma magia abstrata. Até eu tive vontade de rodar eternamente ali.
-Hei Mi, o que isso te lembra? – disse quase num grito
quando corri para frente dela, posicionando-me em frente à roda girante e
abrindo os braços, imitando Kevin Martin no clipe da música que ela havia
cantado em sua casa, no dia da festa de Achila. Até olhei para ver em que
sentido o brinquedo rodava, e era exatamente igual ao vídeo, para minha
satisfação. Ela riu alto quando começamos a cantar juntos.“You…
It's for you
Only you
It's for you”
Nenhum comentário:
Postar um comentário