Um mês depois, tomei coragem para ir a sua casa. Seus pais deixaram tudo como estava antes, dizendo que não tocar na ferida faz parte da cicatrização. Eu queria pedir a bolsa jeans. Só isso dela que eu queria. Fiquei satisfeito quando seu pai passou o objeto para minhas mãos, onde fiquei longos minutos apreciando os penduricalhos. Antes de sair, num ato automático, olhei para a estante das bonecas.
Vazia.
Passadas algumas semanas, quando já não dormia mais agarrado com a bolsa vazia, decidi que precisava continuar a viver, apesar de.
Resolvi colocar a bolsa em cima do guarda-roupa, onde olharia apenas quando meus olhos fizessem questão de lembrar. Toquei a caixa menor que havia sobrado naquele dia em que Mi arrumou meu quarto, e num ato curioso, a abri. Barbie. Em vestido rosa brilhante. A última que sobrou de sua meninice.
E, bem, foi isso que eu vi. Depois daquela quarta feira de julho, tudo o que precisou ser feito assim o foi.
Psicólogos foram pagos para os presentes na cena, inclusive para Nicolas e eu. Mas não acho que tenha adiantado de muita coisa.
O parque ficou fechado por um tempo, mas retornou a suas atividades conforme Milena caía no esquecimento.
Nicolas e eu nunca falamos muito sobre isso. Nick ficou um mês sem falar absolutamente nada com ninguém e emagreceu muito, o que denunciava sua falta de apetite. Ele nunca me contou o que sabia. O que você leu aqui é apenas o que eu, Eduardo Martins, sei. Apenas o que vi em determinado tempo no espaço.
Seu egoísmo e poder demais (decidir privar-se de viver). Porque ela não morreu. Suicidar-se é um corte muito mais dolorido e complicado de costurar.
É uma verdadeira pena. O que aconteceu com ela. Com todos nós e nossos jeitos pesados de continuar a viver. Apesar de.
E não importa com quem eu fale ou as perguntas que eu faça,
ela sempre vai ser uma incógnita. Milena Linzzaro vai ser sempre essa dúvida,
esse quebra-cabeça cheio de peças faltando.
E tanto faz em quantas vezes eu pense naquele dia, é sempre a sensação do abraço do Nicolas que permanece em mim. Naquele abraço em que não soltamos na tal noite. Aquele abraço em que o fiz dormir na sala da minha casa enquanto passava os dedos em seus cabelos lisos e a última coisa que vi foi a marca da sua última lágrima do dia manchar minha calça.
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Eu nunca vou entender sua decisão de ir embora da vida.
Nossa isso me ver o quando amizade é a melhor coisa que temos na vida... o nosso maior tesouro. Me fez ver a vida de um outro angulo, melhor coisa que eu já. "por que não sou muito de ler". Então de todas as coisas que eu li. Essa foi a unica que mexeu comigo de verdade
ResponderExcluirQuão lindo isso ficou?
ResponderExcluirE eu aqui pensando que não iria chorar da segunda releitura.
MUHAHA adivinhei que ia ter suicídio!
(Na verdade foi bem mais que um suicídio)